Emagrecimento e queda o desempenho de equinos podem ser causados por problemas odontológicos
Antigamente, os equinos de um modo geral viviam soltos em seu habitat natural e não passavam pelo processo de domesticação. Atualmente, esses animais são utilizados para trabalho, lazer, produção e competições. Sua domesticação tomou uma enorme proporção, o que acarretou em diversas mudanças na sua fisiologia. Um dos pontos fisiológicos que sofreu maior grau de alteração, foi sem dúvida a parte odontológica desses animais.
Temos que levar em consideração alguns fatores fisio-anatômicos para podermos ter total compreensão de como surgem e o por que surgem diversos problemas odontológicos nessa espécie.
Sabe-se que um equino na natureza ingere pequenas quantidades de forragem verde durante um longo período do dia, e sabe-se também que essa espécie possui suas particularidades no quesito de classificação anatômica e dentária. Dente as diversas particularidades anatômicas, podemos citar as mais importantes como:
- Elodontes: indivíduos que possuem erupção dentaria de forma continua até o fim de sua vida;
- Anisognatas: significa a redução de aproximadamente 30 % a menos, no tamanho da mandíbula em relação a maxila, o que acaba gerando uma angulação entre as superfícies oclusais de dentes maxilares com os mandibulares;
- Heterondontes: animais que possuem diferentes categorias de dentes.
Todas essas características anatômicas funcionam como uma perfeita engrenagem com o animal em seu habitat natural, ingerindo o seu alimento natural por um período ideal, o que promove um desgaste dentário mais eficaz, e respeitando também o seu posicionamento normal de pastejo com a cabeça baixa.
Quando a domesticação desses animais foi realizada, foram impostas diversas mudanças como por exemplo a troca dos componentes oferecidos na sua alimentação, tempo de duração no fornecimento de comida ao longo do dia, e uma diferente posição de cabeça no momento de se alimentar. Geralmente os equinos estabulados, recebem tratos duas a três vezes ao dia, o seu tipo de forragem é variável, e em algumas situações o seu posicionamento de cabeça durante a alimentação foge totalmente do seu fisiológico. Um dos maiores reflexos de toda essa alteração de manejo, está relacionada com a parte odontológica. Começamos a ter um desgaste feito de forma irregular, insuficiente, e também o desenvolvimento de várias afecções em decorrência do tipo de alimento oferecido, como por exemplo as caries, as quais podem levar a fragilidade ou até mesmo a perda prematura de um elemento dentário.
Equinos com alterações ligadas à parte odontológica, por mínimas que sejam, adquirem uma dificuldade absurda em relação ao aproveitamento desse alimento fornecido. Muitas vezes o animal ingere todo o alimento, mas a sua trituração mecânica na boca, ocorre de maneira totalmente ineficiente e consequentemente, prejudica as demais etapas digestivas, principalmente na parte de absorção e aproveitamento dos nutrientes fornecidos. É comum vermos na rotina, animais que comem e não ganham peso e animais que não conseguem sequer se alimentar. Com isso, não temos somente a perda de peso corpóreo, mas ela vem acompanhada da queda de performance principalmente quando estão em questão animais atletas, em decorrência a fraqueza e déficit nutricional. Um outro ponto que causa uma queda abrupta do desempenho e também da massa corpórea, é o fato de que 99% das alterações odontológicas geram um quadro de dor! Animais que sentem dor, não se alimentam adequadamente como forma de poupar-se de sentir dor. Já em relação a queda de performance, a dor causa um grande grau de incomodo, o que é representado por atos defensivos desses animais. A partir daí, os comandos de rédeas já não são mais respeitados, alguns comportamentos incomuns aparecem como balançar excessivo de cabeça na hora da montaria, sangramentos orais, peso excessivo nas rédeas, etc.
Devido a sua fisiologia natural e sua domesticação esses animais devem receber o tratamento odontológico de forma periódica. Através da realização do mesmo, conseguimos evitar problemas futuros maiores, e consequentemente procedimentos e tratamentos mais onerosos. Vale ressaltar que alterações odontológicas e da cavidade oral, podem de fato ter como grave consequência o surgimento de afecções cardíacas e até mesmo mortes súbitas! Potros até os cinco anos de vida devem receber o tratamento dentário a cada 6 meses, e animais já adultos conseguem se manter, a depender do caso, com tratamentos pelo menos uma vez ao ano. É de suma importância nos preocuparmos também com a saúde bucal de pacientes geriatras. A odontologia consegue proporcionar uma maior longevidade e vida útil para esses animais. Sem dúvida é um cuidado primordial que todos deveriam ter!
Fonte: Gabriella Agra de Omena e Silva Médica Veterinária CRMV-ES 2106