Animal não é brinquedo! Não presenteie uma criança com um animal.
No mundo consumista em que vivemos – no qual os adultos tentam compensar a pouca atenção, o pouco afeto e o pouco tempo dedicado às crianças com um excesso de brinquedos e presentes – é comum que em algumas datas comemorativas relacionadas com o universo infantil – como páscoa, dia das crianças, natal, aniversários, os pais, tios, avós, padrinhos, e madrinhas se desdobrem à procura de um presente especial capaz de encantar ou surpreender as crianças, que estão cada vez mais exigentes e que facilmente se cansam dos novos brinquedos. E nessa procura, alguém tem a ideia de presentear com um animal de estimação.
A ideia parece ser realmente perfeita. O bichinho precisa de um lar e será ótima companhia brincando, ocupando a criança, fazendo-a feliz e, em consequência, fazendo com que exija menos tempo e atenção dos pais… Pena que a ideia só parece ser perfeita!
O bichinho realmente pode ser uma companhia maravilhosa e está apto a brincar e oferecer muito carinho. Mas além de não estar apto a preencher o vazio deixado pela falta de atenção e dedicação dos pais, ele também demanda cuidados e atenção de um adulto responsável. O animalzinho precisa de alimento, de vacinas, de remédios, de higiene, de atenção e de carinho. Se a criança não tiver a devida atenção por parte da família, logo estará descarregando suas frustações no seu novo amiguinho com brincadeiras cruéis e quando os pais se dão conta de que em lugar de ganhar uma “ajuda” no cuidado da criança, estão sobrecarregados com os cuidados e custos exigidos pelo novo “membro” da família, resolvem ser livrar do animalzinho que se tornou um estorvo ou simplesmente deixam que permaneça submetido aos caprichos da criança sem lhe oferecer o mínimo de cuidado necessário.
É válido lembrar que animais não são brinquedos que podem ser descartados quando a criança se cansa de brincar ou quando os adultos se sentem incomodados com a bagunça, barulho, despesas ou trabalho exigido por um animalzinho. São seres vivos que merecem amor, que merecem respeito e que sentem fome, sentem frio, sentem dor, sentem tristeza e sentem medo. Sofrem com cada brincadeira cruel, falta de cuidado e de carinho e, principalmente, com o abandono que não conseguem compreender. Maus tratos a animais é considerado crime e tem pena prevista em lei.
Recentemente os animais foram reconhecidos como seres sencientes – dotados de natureza biológica e emocional e, portanto, passíveis de sofrimento – através do Projeto de Lei de iniciativa do deputado Ricardo Izar (PP-SP) aprovado pelo Plenário do Senado, que cria um regime jurídico especial para os animais, dessa forma eles deixam de ser considerados objetos e de serem tratados como “coisas”.
Os pais só devem adotar um animalzinho se estiverem dispostos a cuidar dele (alimentar, dar banho, limpar cocô, xixi, levar para passear, levar ao veterinário, providenciar vacinas e remédios) com carinho e responsabilidade, e a ensinar a seus filhos valores preciosos de respeito, de cuidado e de amor pelos animais. Parentes, padrinhos e amigos não devem tomar a iniciativa de trazer um animalzinho para uma família, se não tiverem o consentimento responsável dos pais ou se não estiverem dispostos a assumir a responsabilidade do cuidado com o bichinho.
Escrito por Roseanne Abrante, Médica Veterinária e presidente da Comissão de Bem-Estar Animal do CRMV-ES