Conheça o Projeto Caiman – Pesquisa e Conservação de Jacarés da Mata Atlântica
1 – Medicina da conservação – Jacarés de papo amarelo.
O jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris, DAUDIN, 1802), é um crocodiliano de porte médio e quando adulto, chega até 3 metros e 100kg de massa corporal. A espécie está distribuída em grande parte da região sudeste da América do Sul, ocupando rios, mangues e áreas alagadas na Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. Mais de 70% da população da espécie encontra-se em território brasileiro.
Sua função na cadeia trófica lhe confere um papel muito importante no fluxo energético dos ambientes nos quais estão inseridos. Os jacarés-de-papo-amarelo são essenciais para a manutenção do equilíbrio do ambiente e manutenção dos serviços ecossistêmicos, além de serem considerados espécies sentinelas da saúde do ecossistema.
O jacaré-de-papo-amarelo figurou por muitos anos na lista de animais ameaçados de extinção, em função principalmente da destruição de seu habitat natural por ações antrópicas e caça predatória, sobretudo entre os anos da década de 40 e 50, quando ocorreu grande exploração da espécie através da caça ilegal. Atualmente, de acordo com os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza a espécie encontra-se classificada como “pouco preocupante” em termos mundiais mas necessitando de atualização de dados. Porém, em função do alto grau de destruição da Mata Atlântica, e a falta de estudos prévios no bioma, não há informações seguras sobre o grau de ameaça de extinção da espécie. Dentre as ameaças, destacam-se a perda de habitat, a caça, os disruptores endócrinos e as doenças emergentes.
Os jacarés estão ficando espremidos entre a fragmentação do habitat e a caça que acontece no ambiente natural e rural e as cidades, vivendo nos subúrbios e áreas alagáveis, esgotos e valões. Cada vez mais são vistos nas cidades, tornando-se animais urbanos ou peri-urbanos, onde estão sujeitos a acidentes, doenças e contato com pessoas, que pode gerar ataques, especialmente se forem molestados.
A caça de animais silvestres é um crime que é conhecidamente devastador para a biodiversidade. Esta prática já favoreceu a extinção de diversas espécies no mundo. A caça é uma das principais ameaças a conservação do jacaré-do-papo-amarelo. Além de propomer um grave desequilíbrio ecológico, a caça representa uma ameaça a saúde pública. Em pesquisas recentes desenvolvidas pelo Projeto Caiman foi observado a presença de bactérias nocivas a saúde humana nos jacarés.
No Brasil pouco se sabe sobre a ecologia das doenças e perfil sanitário das populações de Caiman latirostris, bem como suas relações ambientais. Esta carência de dados, em muitas ocasiões, comprometem a construção de um programa de conservação adequado aos crocodilianos e seus ambientes naturais.
A compreensão dos aspectos ecológicos, sanitários e ecoepidemiológicas em ambientes com diferentes níveis de impacto antrópico são essenciais para a gestão da conservação de crocodilianos. Neste contexto o Projeto Caiman – Jacarés da Mata Atlântica se insere como provedor de informações técnicas para subsidiar ações conservacionistas.
A degradação dos ambientes aquáticos por disruptores endócrinos (contaminantes) é prejudicial aos organismos aquáticos, pois além de causarem um desequilíbrio fisiológico e ecológico significativo nas populações, proporcionam um cenário favorável a ocorrência de doenças infecciosas e parasitárias.
Pouco se sabe a respeito da etiologia, epidemiologia, patogenia, diagnóstico e tratamento das enfermidades que ocorrem no ambiente natural e o real impacto que estas promovem nas populações de crocodilianos no Brasil.
O Médico veterinário que atua na área de medicina da conservação tem um desafio árduo, porém gratificante. Deve ter como característica o apreço pela ciência e a capacidade de trabalhar em equipes multidisciplinares, pois as doenças infecciosas não ocorrem isoladamente do ecossistema, e o processo de doença deve ser visto no contexto das interações ecológicas em um ambiente dinâmico.
A medicina veterinária tem um grande desafio ao trabalhar com jacarés: pesquisar e descobrir patógenos e seus ciclos biológicos, a patogenia das enfermidades, métodos diagnósticos e terapêuticos eficientes, além das dificuldades práticas que o trabalho com animais de vida livre impõe.
A conservação de jacarés na mata atlântica brasileira é uma necessidade crescente e seus benefícios vão além das campanhas carismáticas de apelo popular.
Trabalhar questões da proximidade, aspectos culturais, aspectos sociais, caça, uso na alimentação, riscos à saúde, qualidade e destruição do habitat são fundamentais para a conservação da biodiversidade brasileira como um todo.
2- O Instituto Marcos Daniel
O Instituto Marcos Daniel, fundado em 2004, é uma ONG, reconhecido pelo ministério da justiça como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Publico (OSCIP). É uma associação civil sem fins lucrativos situada em Vitória, ES e também tem atuação em outros estados. O IMD tem como objetivo promover a conservação da biodiversidade, por meio de educação ambiental, cursos de capacitação e eventos técnico-científicos, pesquisas, projetos de conservação e consultorias técnicas. Possui uma equipe multidisciplinar contendo médicos veterinários, biólogos e outros profissionais.
O Instituto estuda a interface entre a saúde ambiental, a saúde animal e a saúde humana, promovendo pesquisa e a conservação da biodiversidade no Brasil sob a ótica da medicina da conservação.
Com a missão de contribuir para a conservação da biodiversidade, gerando conhecimento científico, boas práticas, comunicando e estimulando a promoção de uma sociedade sustentável, o IMD desenvolve 5 programas:
– Projeto Caiman, Jacarés da Mata Atlântica: estuda a saúde e conservação do jacaré do papo amarelo (Caiman latirostris) na Mata Atlântica do Espirito Santo.
-Projeto Chelonia mydas: estuda o efeito dos impactos antrópicos sobre a ocorrência de enfermidades infecciosas nas populações de tartarugas-marinhas no Brasil.
– Simbora pro Parque: Promove a educação ambiental para a sociedade civil em unidades de conservação brasileiras.
– Pró-Tapir: Projeto de monitoramento e conservação da anta (Tapirus terrestris) na Mata Atlântica do Espirito Santo.
– Papo de Anta: Promove palestras e discussões técnicas abertas a sociedade a respeito de temas relevantes para a conservação da biodiversidade brasileira.
O Instituto Marcos Daniel atua sempre em parceria com outras instituições não governamentais, empresas, universidades e órgãos públicos compartilhando recursos e o conhecimento nos projetos que desenvolve.
3- Projeto Caiman – Jacarés da Mata Atlântica
O Instituto Marcos Daniel (IMD) em parceria com a ArcelorMittal tubarão, torna possível o Projeto Caiman – Jacarés da Mata Atlântica, um projeto inovador de pesquisa e conservação do Jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris) no Espirito Santo.
O Jacaré-do-papo-amarelo, espécie símbolo da Mata Atlântica e da biodiversidade do Brasil, é fundamental para a manutenção da saúde e equilíbrio dos ecossistemas na qual estão inseridos.
Frente ao impacto que as atividades humanas impõem sobre as populações de Jacaré-do-papo-amarelo no Brasil e a necessidade urgente de informação científica sobre a espécie, o Projeto Caiman atua no desenvolvimento de pesquisas inéditas para subsidiar ações conservacionistas no Brasil.
O projeto visa mapear e compreender os processos ecológicos e sanitários das populações de jacaré do-papo-amarelo para conservar a espécie e a Mata Atlântica como um todo.
O Projeto Caiman – Jacarés da Mata Atlântica desponta dentre as principais iniciativas de Pesquisa e Conservação de Jacarés brasileiros.
O Projeto Caiman é uma iniciativa continua de pesquisa e conservação das populações de Jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris). Através do uso do Jacaré como uma espécie bandeira, o Projeto tem o objetivo de promover a conservação dos crocodilianos e da Mata Atlântica como um todo.
Trata-se de um projeto pioneiro, fundamental para a conservação da biodiversidade.
O Projeto Caiman atua em 6 vertentes principais, são elas:
1- Uso do Caiman latirostris como espécie bandeira para a conservação das populações de jacarés, demais espécies ameaçadas e da Mata Atlântica.
2- Uso do Caiman latirostris como espécie sentinela da saúde ambiental.
3-Pesquisa aplicada a conservação.
4- Desenvolvimento tecnológico & científico do Brasil.
5- Formação e capacitação de Jovens pesquisadores.
6- Educação e Sensibilização ambiental.
Alguns dados do Projeto Caiman – jacarés da Mata Atlântica:
– O Projeto Caiman monitora populações de jacarés em áreas fundamentais para a conservação dos jacarés de papo amarelo.
– O projeto Caiman constatou que as principais ameaças aos jacarés na Mata Atlântica são: Perda de habitat / Caça / Interferentes endócrinos / Doenças.
– Realiza pesquisas relevantes para a conservação dos crocodilianos brasileiros.
– Mais de 30.000 pessoas, já participaram de forma direta ou indireta de nossas ações de educação e sensibilização ambiental.
– Nos últimos 5 anos, 35 estudantes de diversos estados do Brasil foram capacitados por meio do programa de Iniciação do Projeto Caiman.
– Referência em conservação de jacarés no Brasil.
Contato : [email protected]
Conheça mais em : www.imd.org.br / www.facebook.com/projetocaiman
Material elaborado por:
Yhuri Cardoso Nóbrega
Médico Veterinário e Mestre em Ciência Animal
Coordenador do Projeto Caiman – Jacarés da Mata Atlântica
Marcelo Renan de Deus Santos
Médico Veterinário e Doutor em ecologia de ecossistemas
Presidente do Instituto Marcos Daniel
Professor do curso de Medicina Veterinária – UVV